De Mourão a Mourão: general insinua golpe em 2017 para remendar o de 64


Em uma palestra na loja maçônica de Brasília, comentando sobre o momento político conturbado que vive o Brasil, o general da ativa Antonio Hamilton Martins Mourão disse que uma "intervenção militar" pode ser engendrada caso a justiça brasileira não atue com vigor contra os casos de corrupção que campeiam na política nacional:
 Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso

Mais um golpe militar?

Em 1964, outro Mourão atuou nas Forças Armadas para dar um golpe de Estado. Naquela ocasião, tanto os oficiais militares quando a mídia, setores da Igreja Católica e principalmente a alta burguesia e o empresariado temiam as Reformas de Base que o presidente João Goulart queria colocar em prática.

Tendo como pano de fundo o medo dessas classes de uma suposta e falsa infiltração comunista no governo, defenderam o golpe perpetrado por Olímpio Mourão Filho, que no fim das contas, significava a manutenção de um sistema político, jurídico e social que era um dos mais perversos e injustos do planeta.

Todos os políticos de então, de direita, conservadores, reacionários e com interesses econômicos acima dos nacionais foram colocados debaixo das asas protetoras das Forças Armadas durante os 21 anos de ditadura militar, ajudando a formar relações de poder que tinham a corrupção tolerada, desde que estivessem alinhados com o ideal liberal.

O resultado foi a perseguição dos melhores quadros da política, tidos como "subversivos" — por quererem mudar a ordem do status quo historicamente perverso — que foram então assassinados ou expulsos do país.



 Em 1985, eles, os protegidos, foram os responsáveis pelo processo de transição "lenta, gradual e segura", que iria passar o poder das mãos dos militares para os políticos. Quem eram esses políticos?

Sarney, Moreira Franco, Antonio Carlos Magalhães, Paulo Maluf, Jarbas Passarinho, Michel Temer, e tantos outros desta estirpe e seus afilhados, que vieram a dominar a política brasileira depois de estarem acostumados com as vistas grossas que a ditadura fazia para aqueles que não fossem "comunistas".

O que a ditadura militar nos legou do golpe de 64

Trinta e dois anos depois, essa geração de protegidos corruptos chegou ao seu momento mais abominável, onde duas situações acontecem simultaneamente: uma operação da justiça em conjunto com a procuradoria geral da República, do Ministério Público e da Polícia Federal que escancara os casos de corrupção mais hediondos que o país já assistiu, ao mesmo tempo em que um Congresso Nacional comprometido com um Supremo Tribunal Federal tentam varrer as maiores podridões possíveis para debaixo do tapete da impunidade.

E aí entra em cena o Mourão da atualidade.

Sem autocrítica, sem mea culpa, sem levar em conta o papel das Forças Armadas na criação do mito do comunismo perigoso que possibilitou essas pragas da direita assumirem o poder com carta branca, ele propõe agora, demagogicamente, outro golpe para remendar o soneto da ditadura de 64.

Pelo menos, foi imediatamente desautorizado a falar em nome das Forças Armadas pelo comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas.

Primeiro, que a intervenção militar de 64, com suas perseguições, ideologia conservadora e antidemocrática não foi a solução e sim a causa do Brasil ter ficado duas décadas para trás em comparação com as nações mais desenvolvidas; e segundo, ainda há um grande ressentimento dentro da caserna com relação aos empresários e jornalistas que apoiaram e se beneficiaram do golpe de 64, mas que a partir de um determinado momento, jogaram convenientemente nas costas das Forças Armadas toda a culpa pela derrubada do presidente Goulart. Já não querem incorrer no mesmo equívoco desgastante.

O Brasil não aguenta mais um Mourão imprudente. A única solução possível para este país continua sendo uma revolução armada comunista as eleições gerais de 2018.




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