O que o PSOL deveria fazer nas próximas eleições em nome de um ideal maior


Vai chegando a hora de começar a projetar as possibilidades para as eleições de 2018. Aqui não vamos levar a sério os boatos de que as classes dominantes querem ou conseguirão cancelar o pleito. Então vamos analisar, de forma não tão exaustiva  porque uma postagem de blog não é um artigo, as possibilidades que se apresentam para a esquerda nesse cenário.

Definindo a esquerda com chances reais

De todos os partidos de esquerda que temos no Brasil, somente dois serão levados em conta. O PT e o lulismo aqui não serão considerados, por conta de sua atuação lastimável no poder, sua opção pela conciliação de classes, despolitização da política e da necessidade de superar esse modelo. Os critérios são a representatividade no Congresso; não ter se tornado um partido-apêndice do PT — o que exclui o PCdoB —, e ter alguma possibilidade de lançar candidatura relevante à presidência. Ficamos então com o PDT e o PSOL.

Alguns poderiam argumentar que o PDT também andou navegando no barco do lulismo nos últimos governos, mas sabemos que o PDT, como um partido de correntes, tem no seu interior ainda bons representantes do trabalhismo, do socialismo e do legado brizolista. Esses grupos parecem ter se aglutinado em torno da defesa da candidatura de Ciro Gomes para a presidência pelo PDT.

Ciro Gomes é o que tem pra hoje

Ciro Gomes faz muita gente da esquerda torcer o nariz. Um olhar superficial realmente nos mostra alguém que ajudou a fundar o PSDB, transitou por muitos partidos dos mais variados espectros, que tem trânsito com setores da velha política... No entanto, uma observação mais atenta mostrará um Ciro bastante coerente em suas decisões.



Rompeu com os tucanos quando o partido da social-democracia brasileira se transfigurou em partido da privataria neoliberal, denunciou Temer e Eduardo Cunha quando ainda era um jovem deputado muitos anos antes deles terem ganhado notoriedade, e foi apoiador de Lula em todos os momentos, desde os bons até os difíceis. O que nunca o impediu de denunciar seus erros.

PSOL aposta numa cara nova e desconhecida do eleitor

O PSOL lançou recentemente a pré-candidatura do professor Nildo Domingos Ouriques para a presidência. O conheci ouvindo o programa de debate político na rádio bandeirantes, o Faixa Livre, onde fazia amplas análises sobre a situação política do Brasil e do Mundo. Seu foco é na América Latina e sua principal análise diz respeito à revolução brasileira, em como tirá-la do papel. O PSOL, por sua vez, prentende tirá-lo da sala de aula da Universidade Federal de Santa Catarina direto para sua primeira experiência prática na política.

Qual a melhor estratégia para a esquerda, de fato, ter chance de chegar ao poder?

Penso que o professor Nildo Ouriques desfruta de grande honra em ser o pré-candidato do PSOL nas próximas eleições e tenho a convicção que seria o presidente ideal. Mas entre o idealismo e a realidade existe uma conjuntura complexa no caminho.

Por isso, gostaria muito que as esquerdas pudessem se unir em torno de uma candidatura viável, e que, neste momento, penso ser a de Ciro Gomes.

Muitos andam a compará-lo com Lula, diagnosticando que ele faria o mesmo papel de gerente do capital que o ex-presidente petista se prestou a fazer. Mas essas afirmações não tem a menor base. Quem tem acompanhado, como eu, suas palestras pelo Brasil afora, tem visto um Ciro que mais está para Hugo Chávez, Rafael Correa ou Evo Morales do que Lula, ou seja, sua postura é muito mais à esquerda do que o PT jamais cogitou chegar.

Mais uma estação de cerejas vermelhas?

Há o risco de que Ciro esteja apenas praticando o que o filósofo Vladimir Safatle chamou de "a estação das cerejas vermelhas"? Sim. Risco de sermos enganados todos nós corremos. Campanha é campanha. No entanto, os riscos que Ciro Gomes, que não é o meu candidato dos sonhos, representa, é estatisticamente mais favorável do que defender uma candidatura que, sejamos francos e com todo o respeito ao querido professor, não tem a menor chance.

Dentre todas as opções realmente sérias de vitória, Ciro representa aquela de quem podemos extrair alguma coisa, mesmo que ele não venha a ser o revolucionário que desejamos.

Não há a menor dúvida de que o prof. Nildo é de longe o presidente que todos nós desejamos, mas alguém lá no passado nos ensinou que é preciso levar em conta a conjutura.

Neste momento, o que valeria mais:  uma candidatura rebelde, o voto de protesto inócuo, ou uma aliança com o PDT, e, na hipótese de vitória, pressionar de dentro do governo pelas reformas, além de, quem sabe, arrebatar a nomeação de Nildo para o Ministério da Educação ou  — por ser esta pasta de especial apreço do PDT — um outro? E então, depois de ficar conhecido nacionalmente pelo trabalho revolucionário naquele governo, estar muito mais habilitado para a próxima candidatura.

O que vale um PSOL brigando sozinho e cada partido de esquerda falando uma língua diferente? Temos que ser pragmáticos neste momento e analisar as condições de vitória real, e não apenas de colocar uma candidatura para levantar questões. Essa é a política real, que alguns setores da esquerda ainda não estão maduros para aceitar. Vamos pensar política pragmaticamente, como fazem os nossos adversários e não apenas sonhar.

Senão, tudo o que o PSOL vai conseguir é se prestar a fazer um belo trabalho para a burguesia, dividindo os votos da esquerda.





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