Um Rio de farofeiros
Vejam vocês como a vida dá voltas… Houve um tempo em que os moradores da Baixada e da Zona Oeste do Rio de Janeiro, regiões onde vive a parcela economicamente mais pobre do Grande Rio, sempre que iam curtir o lazer nas praias da Zona Sul, eram ironizados e tachados pejorativamente como “farofeiros” pelos moradores da alta classe média da área rica da cidade: por considerarem os preços praticados nos bares e nos vendedores ambulantes abusivos ou acima de suas capacidades, eles geralmente traziam as suas comidas e bebidas de casa, em isopores, para economizar.
Muito bem. Mas eis que o Rio de Janeiro, de uma hora pra outra, resolveu se tornar uma das cidades mais caras do planeta, especialmente nos setores de transporte, turismo e alimentação, com estabelecimentos comerciais praticando preços simplesmente surreais, principalmente nas regiões que receberão o maior número de turistas para a Copa do Mundo deste ano.
Quando a onda da ganância e oportunismo atingiu o preço das cervejas no Zona Sul, Niterói e outras regiões, um grupo de pessoas se organizou pelas redes sociais e criou o isoporzaço, para justamente – quem diria? – se reunir em praças e levar de casa seu próprio isopor de cerveja! Parece que o que antes era visto como coisa de pobre, agora acaba de ganhar status e se tornar uma prática também entre aqueles que se gabavam de poder consumir nos próprios estabelecimentos comerciais.
O fato é que muita gente reclama dos altos impostos que encarecem os produtos no Brasil, mas esquecem que além disso, da lei da oferta e da procura que também atua na variação de preços, um terceiro fator também influencia na hora de estabelecer um valor em um produto: o senso de oportunidade de um comerciante. E aí, muitas vezes até aqueles que podem se dar ao luxo de viver na estreita faixa de consumo no país, sentem o golpe e são obrigados a recorrer a métodos criativos para driblar os altos preços. E descobrem justamente aquilo que os pobres já sabiam como fazer há muito tempo.
É, não tá fácil pra ninguém…
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