O que as manchetes nos dizem sobre a “imparcialidade” da imprensa

Uma imprensa imparcial? Pense de novo. Apesar do mito da imparcialidade persistir firme nas nossas democracias ocidentais e no nosso imaginário a respeito do jornalismo, a imprensa pode ser tudo, menos neutra. Basta um pouco de pesquisa e conhecimento para desnudar as atividades político-ideológicas que se escondem atrás de fachadas de notícias aparentemente isentas ao longo dos últimos tempos.

Uma nova ferramenta está à nossa disposição justamente para este propósito: trata-se do site Manchetômetro, que, como o próprio nome diz, tem a intenção de medir a valência (o teor positivo ou negativo) da abordagem feita nas manchetes sobre determinado candidato a presidente pelos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo, e no Jornal Nacional, da TV Globo.

  Leia também: A velha imprensa ganha sobrevida na internet.

Um primeiro estudo interessante e muito revelador foi publicado recentemente no site, mostrando, através de um gráfico, a quantidade de matérias de capa nos três mencionados jornais de acordo com a valência (positiva ou negativa) para cada um dos três candidatos principais:

gráfico 1

Podemos concluir da análise do gráfico acima que o candidato Aécio Neves tem uma valência absolutamente equilibrada – ou seja, o número de manchetes com chamada negativa nos três principais jornais do país foi o mesmo do número de manchetes com chamadas positivas. Foram 18 favoráveis e 18 negativas.

O mesmo pode-se dizer do candidato Eduardo Campos. Com uma pequena diferença pesando para as manchetes negativas (15, contra 11 favoráveis) ainda assim existe um certo equilíbrio na abordagem do candidato.

Mas o que realmente chama a atenção é o tratamento absurdamente desproporcional dispensado à candidatura de Dilma Rousseff nestes jornais. Até ontem (2 de agosto, data da última atualização) Dilma foi citada de forma favorável 15 vezes. Mas teve 188 manchetes negativas no período analisado, uma discrepância colossal que não tem a menor justificativa plausível – nem mesmo o fato de ser a atual mandatária do país.

Outro dado revelador é a tendência constante de crescimento de manchetes negativas de Dilma Rousseff ao longo de 2014, conforme vai se aproximando o mês das eleições, como ilustra o gráfico abaixo:

gráfico 2

A única exceção é o mês de abril, onde mesmo assim Dilma (em vermelho no gráfico) foi citada negativamente 8 vezes, contra 1 de Eduardo Campos (laranja) e nenhuma de Aécio Neves (azul). Também houve uma ligeira queda em junho, tendência que se reverteu totalmente no mês seguinte.

  Entenda: SIP: onde se forma o consenso da imprensa conservadora latino-americana

O Manchetômetro vem oferecer um importante instrumento de análise do comportamento reprovável, parcial e ideológico dos principais jornais do país na cobertura das eleições. Divulgando dados que nos permitem perceber a atuação tendenciosa de veículos que se dizem neutros, ele nos demonstra com clareza que é preciso derrubar de uma vez por todas o mito da imparcialidade da imprensa brasileira. O Panorâmica Social vem fazendo a sua parte, ajudando a esclarecer o leitor com postagens sérias e embasadas sobre a imprensa. Cabe a nós cuidarmos para que nossa imprensa seja cada vez mais correta, fiscal da opinião pública e não um partido político em favor de determinados interesses de classe.





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