Devemos nos solidarizar com policiais militares?


Falar sobre a violência das polícias militares pelo Brasil afora é sempre um tema muito difícil. A conduta violenta dos PMs induz a opiniões negativas sobre os soldados da linha de frente da ação, cumpridores de ordens — às vezes com um afinco exagerado — dos escalões superiores. Os agentes da lei e da ordem vão às ruas com uma missão pré-determinada: inibir todo e qualquer tipo de manifestação popular, seja ela pacífica ou não.

Dessa forma, só conseguem angariar as antipatias das camadas populares, incomodadas com o tipo de vida que levam, além de lutarem por direitos e mudanças sociais, e que têm seu livre direito à manifestação vilipendiado pela agressividade de policiais militares.

O problema é exatamente que estes policiais foram designados para defender a ordem estabelecida, esta que favorece aqueles poucos privilegiados em detrimento da maioria da população. E para piorar ainda mais as coisas, grande parte do efetivo de praças, pra não dizer a maioria esmagadora, é colhida no seio das classes mais pobres e não das classes médias ou altas — estas costumam frequentar a oficialidade, reproduzindo nas forças policiais militares o espectro da divisão de classes da sociedade.

Cenas como essa não contribuem para a boa imagem dos policiais.
  Exatamente por isso, é ainda mais desprezível o que estes militares fazem com os seus amigos, parentes e vizinhos. É preciso entender que ser policial não é uma profissão qualquer. Ela tem especificidades complexas porque foi estabelecida para uma função não assumida publicamente. Eufemisticamente diz-se que os policiais estão nas ruas para "defender o cidadão", mas isso não é verdade. A polícia foi feita para garantir a propriedade privada e o tipo de vida que não seja perturbada pelas reivindicações dos de baixo. Esse papel vulgar de cães do capital os policiais não gostam muito de lembrar.

Está mais do que provado que o problema não é o policial em si, mas a corporação militar que o animaliza, o destra e o desumaniza em nome da defesa do status quo. Uma das grandes necessidades atuais da nossa combalida democracia é acabar com a polícia militar. E em seu lugar, propor uma polícia cidadã, desmilitarizada e portanto, despida dos dogmas que transformam seres humanos em animais.

Mas quem tem coragem de propor este debate quando a sociedade, induzida pelo medo que os veículos de comunicação almentam 24 horas por dias em seus programas policiais diários, quer, pelo contrário, mais violência?




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