Esmiuçando a crise política brasileira


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P assados já alguns dias desde que o jornalista d’O Globo decidiu divulgar o trecho da delação premiada que veio a colocar verdadeira gasolina na fogueira da crise brasileira, temos melhores condições de analisar alguns dos desdobramentos das denúncias, não obstante ainda haja muita coisa imprevisível para acontecer nos próximos dias.

Crise no andar de cima

A primeira constatação que podemos fazer é que, apesar dos protestos das classes populares com a direção de movimentos sociais e sindicatos contra o governo Temer — irrisórios, no que tangem à participação das massas — os apuros por que passa o Ilegítimo presidente da República são causados de cima. Ou seja, a crise é uma crise das elites, provocada no topo da pirâmide social, é um conflito das classes dominantes em que o povo, repetindo José Murilo de Carvalho, é mero espectador, assistindo bestializado o desenrolar dos fatos.

Ao que tudo indica, os mercados, aqueles que, neste sistema capitalista prostituído, são os verdadeiros donos do poder, deram um prazo de validade para o Ilegítimo colocar o país nos eixos. Passado pouco mais de um ano desde que assumiu o poder, ele até conseguiu alguns números modestos na economia, sinalizando uma pequena recuperação, embora muito abaixo do que deveria para merecer os festejos dos telejornais. No entanto, o mercado gosta de estabilidade não só econômica como também política, e até agora, o Ilegítimo não conseguiu dar resultados satisfatórios nesse quesito.

Parece que, ao se dar conta do seu curto mandato, tão curto quanto sua estatura moral e política, Michel Temer resolveu descarregar todas as bombas de uma vez, representadas por reformas controversas, impopulares e com resultados duvidosos. A paciência do setor financeiro parece ter-se esgotado.

Trocar o mandatário para tocar as reformas com aparência de estabilidade

A solução mais agradável justamente para estes que mandam de fato é que Temer seja retirado do poder de alguma forma, com imediata convocação de eleição indireta. Para isso, entrou em ação o aparato que estas elites podem instrumentalizar para conseguir seus interesses: a mídia e o judiciário.

Os velhos serviçais políticos do poder (empresarial) como Temer, Aécio, Renan, tão protegidos que foram em outras ocasiões, em episódios talvez até mais graves do que os que geram o “terremoto” político atual, hoje estão sendo descartados na lata do lixo.

Convenhamos que o tal áudio “bombástico” divulgado não revela grandes irregularidades explícitas, pelo menos não tão grandes quanto outras denúncias que envolveram as mesmas figuras, mas que passaram em branco nos tribunais e na televisão. Mas desta vez, existe um propósito envolvido: é preciso eliminar estes políticos viciados (sem trocadilhos em relação a Aécio Neves) e nomear um outro gerente do capital na política que tenha algum perfil de consensualidade e aceitação republicana. A finalidade é eleger uma figura desse porte através de uma eleição indireta, acalmar os ânimos, dar uma simulação de representatividade, e tocar a agenda neoliberal de forma tranquila.

As ruas terão forças para impor eleições diretas?

Por isso, a constatação de que pouco adianta a mobilização popular em torno de “Diretas Já”, apesar de haver uma pequena possibilidade de que uma emenda possa ser votada nesse sentido. Mas essa opção iria de encontro aos interesses do mercado e consequentemente das classes dominantes, porque a eleição direta fugiria do seu controle e colocaria em risco o andamento natural das reformas da Previdência e trabalhista, por exemplo, situação que não lhes interessa. Somente uma improvável manifestação popular em todo o Brasil poderia forçar uma solução dessas, mas as ruas não dão sinais de grande mobilização.

Agora, para uma solução rápida, o mais provável é que Temer seja retirado do poder através da cassação da chapa PT-PMDB que vai ser julgada no próximo dia 6. Temer já disse que não renuncia e um Impeachment com aparências de legalidade, como foi com a Dilma, demoraria pelo menos seis meses, algo impensável nesta conjuntura de incertezas. Ou seja, a crise de cima vai ter uma solução de cima, um arranjo das elites sem a participação ou a consulta ao povo. 

Este é o atual cenário desde que o jornalista Lauro Jardim do jornal O Globo lançou o meteoro que veio a fazer o estrago na governabilidade do Ilegítimo presidente, levando de arrasto Aécio Neves e prometendo eliminar outros figurões da política brasileira. Talvez estejamos entrando numa triste era em que a política, desmoralizada por práticas que são apenas e tão-somente inerentes ao sistema burguês capitalista, como a corrupção, entre em colapso, favorecendo “tecnocratas apolíticos” como João Dória, que sob este disfarce, escondem a disposição de serem os mais novos gerentes políticos dos interesses do capitalismo e do mercado na presidência e no Congresso.




Comentários

  1. Maria Eduarda Freitas05/06/2017, 10:41

    Chama a atenção a completa paralisia do povo brasileiro, logo no momento que parece ser um dos mais decisivos para a história do brasil.
    Não se vê mobilização, revolta, nada, estamos mesmo anestesiados com tanta notícia ruim.

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